Você sente um nó no estômago só de pensar em ir trabalhar? Vive com medo de errar ou de ser humilhado na frente dos colegas? Essas podem ser manifestações de assédio moral no trabalho, uma violência silenciosa que afeta milhões de profissionais brasileiros e deixa marcas profundas na saúde mental e na autoestima.
O assédio moral no ambiente corporativo não é apenas uma questão de “falta de educação” ou “chefe exigente”. Trata-se de uma violação séria dos direitos trabalhistas e da dignidade humana, com consequências jurídicas graves para empresas e agressores. Compreender o que caracteriza essa prática, como identificá-la e quais medidas tomar é fundamental para proteger sua saúde mental e seus direitos.
O que é Assédio Moral no Trabalho?
Assédio moral no trabalho é caracterizado por condutas abusivas, repetitivas e sistemáticas que visam humilhar, constranger, desqualificar ou isolar um profissional no ambiente laboral. Diferentemente de um conflito pontual ou de uma crítica construtiva, o assédio moral manifesta-se através de um padrão persistente de comportamentos que degradam as condições de trabalho e violam a dignidade da vítima.
Características Essenciais do Assédio Moral
Para configurar assédio moral, a conduta geralmente apresenta quatro elementos fundamentais:
Repetição sistemática: Os comportamentos abusivos ocorrem de forma recorrente, não sendo episódios isolados. A frequência e a duração são fatores determinantes.
Intencionalidade: Existe uma intenção deliberada de prejudicar, humilhar ou desestabilizar emocionalmente a vítima, mesmo que de forma velada.
Direcionalidade: As ações são dirigidas especificamente a uma pessoa ou grupo específico, não sendo apenas características de um ambiente geral estressante.
Degradação das condições de trabalho: As práticas abusivas comprometem a dignidade, a saúde ou a carreira profissional da vítima.
Diferença Entre Assédio Moral e Outros Conflitos
É importante distinguir o assédio moral de outras situações no ambiente de trabalho:
Cobrança legítima vs. Assédio: Um gestor tem o direito de cobrar resultados, estabelecer metas e dar feedbacks negativos quando necessário. O assédio ocorre quando essa cobrança é feita de forma humilhante, desproporcional ou com objetivo de perseguição.
Conflito pontual vs. Assédio sistemático: Discussões isoladas ou desentendimentos ocasionais fazem parte das relações profissionais. O assédio caracteriza-se pela persistência e pelo padrão de comportamentos abusivos.
Ambiente estressante vs. Assédio direcionado: Um ambiente de trabalho pode ser desafiador ou estressante para todos. O assédio moral é direcionado especificamente a determinadas pessoas, criando condições diferenciadas de tratamento.
Tipos de Assédio Moral no Trabalho
O assédio moral manifesta-se de diferentes formas no ambiente corporativo. Compreender essas variações é essencial para identificar quando você ou alguém próximo está sendo vítima dessa violência.
1. Assédio Moral Vertical Descendente
É o tipo mais comum, ocorrendo quando um superior hierárquico (gestor, supervisor, diretor) assedia um subordinado. O abuso de poder e a relação hierárquica são utilizados como instrumentos de humilhação e controle.
Exemplos práticos:
- Chefe que grita constantemente com um funcionário específico na frente de colegas
- Gestor que estabelece metas impossíveis apenas para determinado colaborador
- Superior que sistematicamente desqualifica o trabalho de um subordinado
- Líder que ameaça demissão de forma recorrente como forma de pressão psicológica
- Supervisor que retira responsabilidades importantes como forma de punição velada
Frases típicas:
- “Você é incompetente, não sei como ainda está empregado aqui”
- “Qualquer um faria esse trabalho melhor que você”
- “Se não gostar, a porta da rua é a serventia da casa”
- “Você está aqui por favor meu, não se esqueça disso”
2. Assédio Moral Vertical Ascendente
Menos comum, mas igualmente prejudicial, ocorre quando um ou mais subordinados assediam um superior hierárquico. Geralmente acontece quando há resistência à liderança ou discordância com mudanças implementadas.
Exemplos práticos:
- Equipe que boicota sistematicamente as decisões de um novo gestor
- Funcionários que espalham rumores difamatórios sobre um superior
- Subordinados que deliberadamente sabotam projetos coordenados pelo gestor
- Grupo que isola socialmente um líder, excluindo-o de conversas e eventos informais
Frases típicas:
- “Esse gestor não sabe nada, vamos fazer do nosso jeito”
- “Não vou seguir as orientações dessa pessoa”
- “Vamos complicar para ela pedir demissão”
3. Assédio Moral Horizontal
Ocorre entre colegas de trabalho do mesmo nível hierárquico. Pode ser motivado por competição, inveja, preconceito ou conflitos pessoais que se manifestam de forma abusiva.
Exemplos práticos:
- Colega que espalha fofocas e boatos sobre outro profissional
- Grupo que isola sistematicamente um colega, excluindo-o de conversas e atividades
- Funcionário que sabota o trabalho de outro, escondendo informações importantes
- Colegas que ridicularizam ou fazem piadas constantes sobre características pessoais de alguém
Frases típicas:
- “Ninguém aguenta trabalhar com você”
- “Você não se encaixa aqui”
- “Sempre tem algo errado com o que você faz”
4. Assédio Moral Institucional
Também chamado de organizacional, ocorre quando as próprias práticas, políticas ou cultura da empresa são abusivas. Neste caso, o assédio não é praticado por uma pessoa específica, mas está incorporado à estrutura organizacional.
Exemplos práticos:
- Empresas que estabelecem metas sistematicamente inalcançáveis para todos
- Organizações que promovem competição destrutiva entre colaboradores
- Ambientes que normalizam jornadas exaustivas e disponibilidade 24/7
- Empresas que punem publicamente funcionários que não atingem resultados
- Organizações que toleram ou incentivam comportamentos abusivos de lideranças
Manifestações típicas:
- Rankings públicos que humilham os “piores” funcionários
- Pressão sistemática através de ameaças coletivas de demissão
- Cultura que glorifica sacrifício pessoal extremo
- Políticas que incentivam denunciação e desconfiança entre colegas
5. Assédio Moral Velado (ou Sutil)
Caracteriza-se por práticas menos óbvias, mas igualmente prejudiciais. É especialmente perigoso porque é difícil de identificar e documentar, deixando a vítima em dúvida se está realmente sendo assediada.
Exemplos práticos:
- Isolamento gradual: não convidar para reuniões relevantes, parar de responder e-mails
- Retirada progressiva de responsabilidades sem justificativa clara
- Exclusão de canais de comunicação importantes da equipe
- Ignorar sistematicamente contribuições e ideias em reuniões
- Olhares, suspiros e linguagem corporal depreciativa constante
- Elogiar todos publicamente, exceto uma pessoa específica
Sinais de alerta:
- Sentimento de “estar enlouquecendo” ou “sendo paranóico”
- Dificuldade de explicar para outros o que está acontecendo
- Situações que parecem “coincidências” mas formam um padrão
- Isolamento progressivo sem motivo aparente
Exemplos Reais de Assédio Moral
Compreender situações concretas ajuda a identificar quando comportamentos cruzam a linha do aceitável:
Cenário 1: A Desqualificação Sistemática
Maria é analista de marketing há 3 anos. Há seis meses, chegou um novo gestor que, desde o início, demonstra hostilidade. Toda vez que Maria apresenta ideias em reuniões, ele faz comentários como “isso não vai funcionar” sem dar oportunidade de explicação completa. Quando Maria entrega relatórios, ele sempre encontra “erros graves”, embora outros colegas façam trabalhos similares sem críticas. Ele começou a excluí-la de reuniões importantes e, recentemente, redistribuiu seus projetos principais para outros profissionais, deixando-a apenas com tarefas administrativas básicas. Maria, antes confiante, agora duvida de suas capacidades e desenvolveu ansiedade severa.
Por que é assédio: Há um padrão sistemático de desqualificação, tratamento diferenciado em relação aos colegas, retirada de responsabilidades e claro impacto na saúde mental da vítima.
Cenário 2: A Humilhação Pública
Carlos trabalha em vendas e, ocasionalmente, não atinge metas em meses difíceis. Seu gestor criou o hábito de, nas reuniões semanais de equipe, fazer Carlos “explicar” porque falhou, enquanto os outros apenas reportam números. Recentemente, o gestor começou a fazer “piadas” sobre Carlos na frente de todos: “Lá vem o nosso campeão de desculpas”, “Carlos está no modo férias permanente”. A equipe inicialmente ri por desconforto, mas Carlos se sente profundamente humilhado. Ele começou a faltar reuniões alegando doenças e está considerando pedir demissão.
Por que é assédio: Humilhação pública repetida, exposição vexatória e tratamento diferenciado que visa constranger e rebaixar a vítima.
Cenário 3: O Isolamento Estratégico
Júlia foi promovida a coordenadora, assumindo a posição que um colega esperava receber. Desde então, esse colega e seu grupo de amigos na empresa começaram a isolá-la. Param de conversar quando ela se aproxima, não respondem seus e-mails a menos que ela copie o gestor, “esquecem” de convidá-la para almoços e happy hours que antes eram rotina. Em reuniões, fazem questão de questionar todas as suas decisões de forma hostil. Júlia se sente cada vez mais sozinha e está desenvolvendo sintomas de depressão.
Por que é assédio: Isolamento sistemático, boicote coordenado às suas funções e criação de ambiente hostil intencional.
Cenário 4: A Sobrecarga Seletiva
Pedro é o único funcionário negro do departamento. Embora tenha a mesma função dos colegas, sistematicamente recebe as tarefas mais trabalhosas e com prazos mais apertados. Quando questiona, ouve que “é porque você é bom nisso” ou “porque confiamos em você”. Enquanto isso, colegas com mesma senioridade trabalham em projetos estratégicos interessantes. Pedro trabalha até tarde todos os dias enquanto outros saem no horário. Quando tenta conversar com o gestor, é acusado de “não ser colaborativo” e “criar problemas”.
Por que é assédio: Distribuição desproporcional e discriminatória de carga de trabalho, com elementos de racismo estrutural, criando condições desiguais.
Frases Típicas de Assédio Moral
Reconhecer os padrões de linguagem do assédio ajuda a identificar situações abusivas:
Frases de Desqualificação Profissional
- “Você não serve para essa função”
- “Até meu filho de 10 anos faria melhor”
- “Você é um peso morto para a equipe”
- “Não sei o que você faz aqui o dia inteiro”
- “Qualquer estagiário é mais útil que você”
Frases de Ameaça e Intimidação
- “Tem uma fila de gente querendo sua vaga”
- “Se não gostar, você sabe onde fica a porta”
- “Aqui ninguém é insubstituível”
- “Vou deixar você tão desconfortável que vai pedir demissão”
- “Você não vai conseguir emprego em nenhum outro lugar”
Frases de Humilhação Pessoal
- “Você é burro(a) mesmo, né?”
- “Nunca vi alguém tão incompetente”
- “Você tem problema mental ou algo assim?”
- “Seu problema é que você é [característica pessoal]”
- “Você é sensível demais, não aguenta nada”
Frases de Manipulação Emocional
- “Depois de tudo que fiz por você, é assim que me agradece?”
- “Se você fosse realmente comprometido, não questionaria”
- “Você está sendo ingrato(a)”
- “Ninguém mais acreditaria em você como eu acredito”
- “Você está louco(a), isso nunca aconteceu”
Frases de Isolamento e Exclusão
- “Ninguém aqui gosta de você”
- “Todo mundo reclama de você pelas costas”
- “Você não se encaixa na nossa cultura”
- “As pessoas evitam trabalhar com você”
Consequências do Assédio Moral
O assédio moral gera impactos profundos e duradouros em múltiplas dimensões da vida da vítima.
Consequências Psicológicas e Emocionais
Ansiedade generalizada: A vítima desenvolve estado constante de alerta e preocupação, antecipando novos ataques. Sintomas incluem tensão muscular, taquicardia, sudorese e dificuldade para relaxar.
Depressão: Sentimentos persistentes de tristeza, desesperança, perda de interesse em atividades antes prazerosas, alterações no sono e apetite, e pensamentos negativos sobre si mesmo.
Síndrome do Pânico: Crises intensas de medo e ansiedade, muitas vezes associadas ao ambiente de trabalho ou situações que lembrem o assédio.
Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT): Em casos graves, a vítima pode desenvolver TEPT, com flashbacks, pesadelos, evitação de situações relacionadas ao trabalho e hipervigilância.
Baixa autoestima: A constante desqualificação corrói a confiança da vítima em suas capacidades profissionais e pessoais.
Sentimentos de culpa e vergonha: Muitas vítimas internalizam as críticas e acreditam serem responsáveis pelo assédio.
Isolamento social: A vergonha e o esgotamento emocional levam ao afastamento de amigos e familiares.
Consequências Físicas
O estresse crônico causado pelo assédio manifesta-se também no corpo:
- Dores de cabeça frequentes e enxaquecas
- Problemas gastrointestinais (gastrite, úlceras, síndrome do intestino irritável)
- Hipertensão arterial
- Problemas dermatológicos (queda de cabelo, alergias, psoríase)
- Distúrbios do sono (insônia ou hipersonia)
- Fadiga crônica
- Sistema imunológico comprometido, levando a doenças frequentes
- Alterações hormonais
- Dores musculares crônicas
Consequências Profissionais
Queda de desempenho: O estado emocional prejudicado afeta concentração, memória e capacidade de decisão.
Presenteísmo: A vítima está fisicamente presente, mas emocionalmente incapaz de trabalhar adequadamente.
Absenteísmo: Aumento de faltas por doenças relacionadas ao estresse.
Interrupção de carreira: Muitas vítimas precisam pedir demissão ou são demitidas, interrompendo trajetórias profissionais promissoras.
Dificuldade de recolocação: O trauma pode gerar medo de novos empregos e dificuldade em entrevistas.
Danos à reputação: Em alguns casos, o agressor pode espalhar informações falsas que prejudicam a imagem profissional da vítima.
Consequências Familiares e Sociais
Impacto nos relacionamentos: O esgotamento emocional e a irritabilidade afetam relacionamentos conjugais, familiares e de amizade.
Problemas financeiros: Afastamentos, demissões ou necessidade de tratamentos geram impacto econômico.
Isolamento social: Vergonha e exaustão levam ao afastamento de atividades sociais.
Transmissão de sofrimento: Familiares, especialmente filhos, são afetados indiretamente pelo sofrimento da vítima.
Consequências Jurídicas para o Agressor e a Empresa
Responsabilidade trabalhista: Empresas podem ser condenadas a pagar indenizações por danos morais, materiais e estéticos, além de danos existenciais.
Valores de indenização: Variam de alguns milhares a milhões de reais, dependendo da gravidade, duração do assédio e consequências para a vítima.
Responsabilização penal: Em casos graves, o assédio pode configurar crimes como constrangimento ilegal, injúria, difamação ou lesão corporal.
Danos à reputação corporativa: Casos de assédio expostos publicamente prejudicam gravemente a imagem da empresa.
Perda de talentos: Ambientes tóxicos levam à saída de profissionais qualificados.
Custos com afastamentos: Licenças médicas e rotatividade geram custos significativos.
Como Identificar se Você Está Sofrendo Assédio Moral
Reconhecer o assédio pode ser desafiador, especialmente em suas formas mais sutis. Responda honestamente às seguintes questões:
Checklist de Identificação
Sobre o comportamento do agressor:
- Você é constantemente criticado de forma desproporcional, humilhante ou na frente de outros?
- Suas contribuições e ideias são sistematicamente ignoradas ou ridicularizadas?
- Você recebe tratamento diferente (pior) em relação aos colegas de mesma posição?
- Há retirada progressiva de suas responsabilidades ou tarefas sem justificativa adequada?
- Você é excluído de reuniões, comunicações ou eventos importantes relacionados ao trabalho?
- Sofre isolamento social deliberado no ambiente de trabalho?
- Recebe metas impossíveis ou prazos irrealistas apenas você?
- É alvo de piadas, comentários depreciativos ou sarcasmos constantes?
Sobre o padrão:
- Esses comportamentos ocorrem com frequência (semanalmente ou mais)?
- Há um padrão repetitivo, não sendo situações isoladas?
- Isso acontece há mais de um mês?
Sobre o impacto:
- Você sente ansiedade, medo ou angústia ao pensar em ir trabalhar?
- Seu sono está prejudicado por preocupações com o trabalho?
- Você desenvolveu sintomas físicos (dores, problemas digestivos, etc.)?
- Sua autoestima e confiança profissional diminuíram significativamente?
- Você se isola de amigos e familiares?
- Sente que está “enlouquecendo” ou duvida de suas percepções?
Se você respondeu “sim” para várias dessas questões, especialmente combinando comportamento, padrão e impacto, há grande probabilidade de você estar sofrendo assédio moral.
Como Denunciar Assédio Moral no Trabalho
Se você identificou que está sendo vítima de assédio moral, é fundamental agir para proteger sua saúde e seus direitos. Veja o passo a passo:
1. Documente Tudo
A documentação é crucial para comprovar o assédio. Registre:
Diário detalhado: Anote data, hora, local, o que aconteceu, quem estava presente e como você se sentiu. Seja específico e objetivo.
E-mails e mensagens: Salve todas as comunicações abusivas. Faça backup em locais seguros fora do sistema da empresa.
Testemunhas: Identifique colegas que presenciaram situações de assédio. Anote nomes e o que viram.
Documentos de trabalho: Guarde avaliações de desempenho, memorandos, alterações de função, metas estabelecidas.
Registros médicos: Mantenha laudos, atestados e receitas que demonstrem impactos na saúde.
Gravações: Em alguns casos, gravar conversas pode ser útil (verifique a legalidade na sua região).
2. Busque Apoio Interno (Se Possível e Seguro)
Canal de denúncias: Muitas empresas têm ouvidorias, canais de ética ou programas de compliance. Utilize-os formalmente.
RH ou Departamento Pessoal: Registre formalmente a queixa por escrito, solicitando protocolo.
Superior do agressor: Se o assédio vem de um gestor, considere falar com o superior dele, sempre formalizando por escrito.
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA): A CIPA pode auxiliar na mediação e registro.
Sindicato: Se sua categoria tem sindicato ativo, busque orientação e apoio.
Importante: Só utilize canais internos se você se sentir seguro. Em alguns casos, especialmente quando há assédio institucional ou proteção ao agressor, buscar ajuda interna pode piorar a situação.
3. Busque Apoio Externo
Ministério Público do Trabalho (MPT): Você pode fazer denúncia anônima através do site ou presencialmente. O MPT pode investigar e instaurar ações contra a empresa.
Sindicato da categoria: Mesmo que você não seja sindicalizado, pode buscar orientação jurídica.
Delegacia Regional do Trabalho: Registre denúncia sobre condições inadequadas de trabalho.
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB): Oferece serviço de assistência judiciária gratuita em algumas seccionais.
Defensoria Pública: Se você não tem condições de contratar advogado, a Defensoria oferece assistência gratuita.
Delegacia de Polícia: Em casos que configurem crime (ameaça, injúria, difamação), registre boletim de ocorrência.
4. Busque Ajuda Jurídica
Advogado trabalhista: Consulte um especialista para avaliar seu caso e as melhores estratégias.
Ação trabalhista: Você pode processar a empresa pedindo rescisão indireta do contrato (demissão sem justa causa por culpa do empregador) e indenização por danos morais.
Prazo: Você tem até 2 anos após o fim do contrato para entrar com ação trabalhista, podendo reclamar por até 5 anos retroativos.
5. Cuide da Sua Saúde
Busque atendimento médico e psicológico: Procure profissionais que possam diagnosticar e tratar os impactos na saúde.
Considere afastamento: Se necessário, solicite afastamento médico para preservar sua saúde.
Construa rede de apoio: Compartilhe com pessoas confiáveis o que está acontecendo. Não enfrente sozinho.
Direitos da Vítima de Assédio Moral
Rescisão indireta: Você pode pedir demissão com direito a todas as verbas rescisórias de uma demissão sem justa causa, incluindo aviso prévio, multa de 40% do FGTS e seguro-desemprego.
Indenização por danos morais: Compensação financeira pelo sofrimento psicológico.
Indenização por danos materiais: Ressarcimento de gastos com tratamentos médicos, psicológicos e lucros cessantes.
Estabilidade provisória: Em caso de afastamento por problemas de saúde relacionados ao assédio, você pode ter direito a estabilidade no emprego por 12 meses após o retorno.
Como Prevenir Assédio Moral na Empresa
A prevenção é responsabilidade da organização e deve ser levada a sério.
Para Empresas e Lideranças
1. Política clara e escrita contra assédio
Desenvolva e divulgue amplamente uma política organizacional que:
- Defina claramente o que é assédio moral
- Estabeleça tolerância zero para comportamentos abusivos
- Especifique consequências claras para agressores
- Garanta proteção contra retaliação para denunciantes
2. Canais de denúncia efetivos
Implemente sistemas que:
- Permitam denúncias anônimas
- Garantam confidencialidade
- Tenham processos claros de investigação
- Ofereçam múltiplos canais de acesso
3. Treinamentos regulares
Capacite todos os colaboradores, especialmente lideranças, sobre:
- Identificação de assédio moral
- Impactos e consequências
- Prevenção de comportamentos abusivos
- Gestão respeitosa de equipes
- Comunicação não violenta
4. Cultura organizacional saudável
Promova ambiente onde:
- Diversidade é valorizada
- Erros são oportunidades de aprendizado, não motivo de humilhação
- Feedback é construtivo e respeitoso
- Colaboração supera competição destrutiva
- Equilíbrio entre vida pessoal e profissional é respeitado
5. Seleção e avaliação de lideranças
- Avalie candidatos a posições de liderança também por competências interpessoais
- Inclua avaliação 360° que considere como gestores tratam suas equipes
- Não tolere líderes abusivos, independentemente de resultados financeiros
6. Monitoramento proativo
- Realize pesquisas de clima organizacional regulares
- Identifique departamentos com alta rotatividade ou absenteísmo
- Investigue padrões que possam indicar ambientes tóxicos
- Acompanhe indicadores de bem-estar dos colaboradores
7. Resposta rápida e efetiva
Quando houver denúncia:
- Investigue prontamente e com imparcialidade
- Proteja a vítima de retaliações
- Tome medidas disciplinares apropriadas contra agressores confirmados
- Ofereça suporte à vítima (psicológico, médico, jurídico se necessário)
Para Profissionais
Conheça seus direitos: Informe-se sobre legislação trabalhista e política da empresa.
Estabeleça limites: Comunique claramente o que é aceitável e o que não é no tratamento que você recebe.
Documente: Mesmo sem suspeita de assédio, mantenha registros de seu trabalho e interações importantes.
Cultive relacionamentos: Mantenha boas relações com colegas que podem ser testemunhas ou apoio.
Não normalize abuso: Se algo parece errado, provavelmente é. Confie em seus instintos.
Busque apoio: Compartilhe situações preocupantes com pessoas confiáveis.
Perguntas Frequentes sobre Assédio Moral
Uma única situação de humilhação pode ser considerada assédio moral?
Geralmente não. O assédio caracteriza-se pela repetição e sistematização. No entanto, uma única situação extremamente grave pode configurar dano moral passível de indenização, ainda que não se caracterize tecnicamente como assédio moral.
Cobrança por resultados é assédio moral?
Não. Gestores têm o direito e o dever de cobrar resultados, estabelecer metas e dar feedbacks, inclusive negativos. O assédio ocorre quando essa cobrança é feita de forma humilhante, desproporcional, pública ou com intenção de perseguir.
Posso ser demitido por denunciar assédio moral?
Legalmente, você está protegido contra retaliação. Demitir alguém por denunciar assédio pode configurar dispensa discriminatória, dando direito à reintegração ou indenização dobrada. No entanto, na prática, retaliações podem ocorrer de forma velada.
Preciso continuar trabalhando enquanto processo a empresa?
Não necessariamente. Você pode pedir rescisão indireta do contrato, que equivale a ser demitido sem justa causa por culpa do empregador, permitindo que você saia e ainda receba todas as verbas rescisórias.
Quanto tempo demora um processo de assédio moral?
Varia muito, mas processos trabalhistas geralmente levam de 1 a 3 anos. A reforma trabalhista de 2017 buscou agilizar, mas a duração depende da complexidade do caso e da vara trabalhista.
Qual o valor médio de indenização?
Não há valor fixo. Indenizações variam de alguns milhares a mais de um milhão de reais, dependendo da gravidade, duração, consequências, porte da empresa e jurisprudência local.
Recursos e Apoio
Se você está enfrentando assédio moral, não está sozinho. Diversos recursos podem ajudar:
Apoio Psicológico:
- Centro de Valorização da Vida (CVV): 188 (apoio emocional gratuito 24h)
- CAPS (Centros de Atenção Psicossocial): atendimento gratuito pelo SUS
Orientação Jurídica:
- Ministério Público do Trabalho: denúncias e orientações
- Defensoria Pública: assistência jurídica gratuita
- Sindicatos: orientação para filiados e, em alguns casos, para a categoria
Informação e Conscientização:
- Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH)
- Portal do Ministério Público do Trabalho
- Sites de sindicatos e associações profissionais
