O assédio moral no trabalho é um dos maiores inimigos da saúde mental e da segurança psicológica no ambiente corporativo. Longe de ser apenas um conflito isolado ou uma discussão acalorada, o assédio moral é caracterizado por uma exposição repetitiva e prolongada do colaborador a situações humilhantes e vexatórias. É um terror psicológico que tem como objetivo desestabilizar a vítima, forçá-la a desistir do emprego ou minar sua autoestima.
Para combater esse comportamento destrutivo, é essencial saber identificá-lo. O assédio raramente se apresenta de forma clara e direta; ele se esconde na sutileza da rotina e na forma como a cobrança é feita.
O Que Define o Assédio Moral?
Para que um comportamento seja classificado como assédio moral, ele deve atender a três critérios principais:
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Intencionalidade: O agressor age com o objetivo de prejudicar ou desestabilizar a vítima.
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Repetitividade (A Persistência): Os atos não são isolados. Eles ocorrem de forma contínua, sistemática e prolongada no tempo (semanas, meses, ou até anos).
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Horizontal, Vertical ou Misto: O assédio pode ocorrer entre colegas de mesmo nível (horizontal), de superior para subordinado (vertical descendente) ou, mais raramente, de subordinado para superior (vertical ascendente).
Exemplos Práticos de Assédio Moral no Dia a Dia
O assédio moral se manifesta em quatro categorias principais: ataque à dignidade, isolamento, manipulação de tarefas e agressão verbal/emocional.
1. Ataque à Dignidade e Humilhação Pública
O objetivo aqui é minar a autoestima do colaborador na frente de seus pares.
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Críticas e Punições Públicas: O líder critica o colaborador de forma desrespeitosa em reuniões, e-mails com cópia para toda a equipe, ou na frente de clientes. O foco é na pessoa, e não no erro (Ex: “Como você pode ser tão burro a ponto de fazer isso?”).
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Ridicularização: Imitação, sarcasmo ou piadas humilhantes sobre a aparência, modo de falar, vida pessoal ou profissional da vítima.
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Contestação Constante: O agressor questiona o trabalho da vítima de forma exagerada e desproporcional, muitas vezes refazendo tarefas já concluídas para demonstrar superioridade ou incompetência da vítima.
2. O Isolamento e a Exclusão
O agressor busca excluir a vítima do convívio social e profissional, transformando-a em uma “estranha” no próprio ambiente de trabalho.
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Retirada de Ferramentas: Bloquear o acesso da vítima a sistemas, e-mails essenciais, listas de clientes ou ferramentas de trabalho sem justificativa plausível.
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Exclusão de Comunicação: Omitir informações cruciais para o desempenho do trabalho, excluir o colaborador de reuniões importantes, ou evitar passar recados diretamente a ele.
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Fazer “Vácuo” no Ambiente: Outros colaboradores são instruídos (ou sentem-se coagidos) a ignorar a vítima, não cumprimentá-la ou não se dirigir a ela, isolando-a fisicamente no escritório.
3. Manipulação da Carga de Trabalho e Funções
O assédio se manifesta através da gestão tóxica das tarefas, visando o esgotamento ou o tédio.
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Sobrecarga Excessiva: Delegar intencionalmente uma quantidade de trabalho impossível de ser concluída no prazo, com o objetivo de gerar estresse, fazê-la falhar e ter motivos para criticá-la.
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Esvaziamento de Tarefas: Retirar todas as tarefas importantes e estratégicas do colaborador, deixando-o sem função relevante ou dando-lhe apenas atividades insignificantes (Ex: arquivar papéis o dia todo). Isso mina o senso de propósito e questiona a utilidade do profissional.
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Mudanças Constantes e Arbitrárias: Mudar as tarefas, o setor ou o posto de trabalho da vítima repetidamente e sem motivo claro, desestabilizando-a e impedindo-a de se adaptar.
4. Ameaças e Coerção Indireta
O medo é usado como principal ferramenta de gestão.
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Ameaças Veladas de Demissão: Frases como “A fila de gente querendo seu cargo está na porta” ou insinuações constantes de que a performance está abaixo do esperado, sem oferecer feedback construtivo.
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Vigilância Extrema: Monitoramento excessivo e desproporcional do tempo de pausas, ligações ou do uso da internet, gerando desconfiança e tensão.
Romper o Ciclo: O Que Fazer?
O assédio moral é uma forma de violência que não deve ser tolerada. Se você se identificar com esses exemplos, é crucial buscar ajuda:
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Documente Tudo: Anote datas, horários, locais, quem estava presente e o que foi dito em cada incidente. Guarde e-mails, mensagens de chat ou qualquer prova documental.
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Busque Apoio: Compartilhe a situação com amigos, familiares e, idealmente, com um profissional de saúde mental (psicólogo).
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Utilize os Canais da Empresa: Reporte o assédio ao RH, ao Canal de Denúncias ou à Ouvidoria da empresa. Se houver um sindicato, procure apoio lá.
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Busque Orientação Legal: Se os canais internos falharem, procure um advogado especializado em direito do trabalho para orientações sobre como proceder legalmente.
O silêncio é o maior aliado do assediador. Falar sobre o problema e documentá-lo é o primeiro passo para resgatar sua dignidade e proteger sua saúde mental.
