Em um ambiente corporativo de alta performance, a cobrança por resultados é uma realidade. No entanto, existe uma linha sutil e perigosa que separa a gestão de desempenho eficaz do assédio moral. Muitos líderes, conscientes ou inconscientes de seus atos, utilizam a pressão por metas como um disfarce para comportamentos abusivos, minando a saúde mental da equipe e fomentando um ambiente de medo.
A cobrança saudável foca no resultado e no processo, oferecendo recursos e feedback construtivo. Já a cobrança que se torna assédio foca na pessoa, usando táticas de humilhação e terror psicológico para controlar. Reconhecer essa diferença é crucial para líderes que desejam ser inspiradores e não destrutivos.
Os Sinais de Alerta: Quando a Cobrança Vira Assédio
A principal diferença reside no modo da comunicação e na frequência do comportamento. Observe como a cobrança deixa de ser sobre o trabalho e se torna um ataque pessoal.
1. O Uso da Humilhação Pública
- Assédio: O líder critica ou expõe o colaborador de forma vexatória em reuniões, e-mails com cópia para toda a equipe ou em momentos de lazer. O objetivo não é corrigir, mas sim constranger e diminuir a autoestima.
- Cobrança Saudável: O feedback de correção é dado em particular, focado no erro específico da tarefa, seguido de um plano de ação e recursos para melhorar.
2. A Crítica Implícita e o Isolamento
- Assédio: O líder passa a ignorar o colaborador, retira tarefas importantes sem explicação, ou promove o isolamento (excluindo-o de reuniões essenciais). O silêncio e o tratamento diferenciado são usados como punição psicológica.
- Cobrança Saudável: O líder comunica a insatisfação com a performance de forma clara, oferece treinamento ou remaneja a função com diálogo e transparência.
3. Metas Impossíveis e o Esvaziamento de Tarefas
- Assédio: O líder impõe metas inatingíveis com prazos irreais, sabendo que o colaborador irá falhar, para que possa criticá-lo posteriormente. Ou, inversamente, retira todas as tarefas relevantes, deixando o colaborador ocioso e questionando sua utilidade (assédio por omissão).
- Cobrança Saudável: As metas são desafiadoras, mas realistas e negociáveis. O líder oferece apoio e verifica se a equipe tem os recursos necessários antes de iniciar o projeto.
4. Ameaças Veladas e a Cultura do Medo
- Assédio: Frases como “Se não bater a meta, a fila de gente querendo seu cargo está na porta” ou “Você é a peça mais fraca do time” são usadas para coagir e gerar medo constante.
- Cobrança Saudável: O líder comunica as consequências de forma profissional (ex: “Se não atingirmos esse resultado, teremos que reavaliar o projeto”), focando no impacto do negócio, e não na ameaça pessoal.
A Responsabilidade do Líder e a Prevenção
Líderes que ultrapassam essa linha não só cometem assédio moral, mas destroem a segurança psicológica da equipe, levando ao burnout e a um turnover alto.
Como o Líder Pode Evitar Ultrapassar o Limite:
- Use a Comunicação Não Violenta (CNV): Foque nos fatos (Observação) e nas necessidades de negócio, em vez de julgar o caráter ou a competência do colaborador.
- Lembre-se da Individualidade: Reconheça que cada pessoa lida com a pressão de forma diferente. Ajuste a intensidade e o estilo da cobrança à pessoa, e não a um padrão rígido.
- Priorize o Feedback Privado: Elogie em público, corrija em particular. Essa é a regra de ouro para preservar a dignidade e a autoestima do colaborador.
- Crie Canais de Escuta: Garanta que a equipe tenha canais seguros (RH ou ouvidoria) para reportar abusos sem medo de retaliação.
A verdadeira liderança inspira o melhor nas pessoas através do respeito, da clareza e do suporte. Qualquer “cobrança” que exija a humilhação ou o adoecimento do outro para ser eficaz
