O silêncio é cúmplice
Quando falamos em assédio moral no trabalho, uma pergunta ecoa nos corredores corporativos: o que o RH realmente faz quando um colaborador denuncia?
Em muitos casos, a resposta é constrangedora: nada.
E quando o RH se omite, o assédio não só continua — ele ganha força, se institucionaliza e compromete toda a cultura da empresa.
Este artigo é um convite à ação. Se você atua com Recursos Humanos, gestão ou liderança, aqui vai encontrar um guia direto, estratégico e humano sobre como agir corretamente diante de casos de assédio moral no ambiente corporativo.
O que é assédio moral no ambiente de trabalho?
Assédio moral é a exposição de uma pessoa a situações humilhantes, constrangedoras ou hostis de forma repetitiva durante a jornada de trabalho. Ele pode ser praticado por superiores, pares ou até subordinados, e afeta diretamente a saúde mental e o desempenho do colaborador.
Exemplos comuns de assédio moral:
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Gritar ou humilhar um colaborador diante de outros;
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Isolar a pessoa do time ou de atividades importantes;
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Delegar tarefas impossíveis com prazos curtos de forma proposital;
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Ignorar opiniões ou decisões de forma sistemática;
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Espalhar boatos ou fazer comentários depreciativos.
O papel estratégico do RH: não é só receber a denúncia
O RH não pode se posicionar como mero “receptáculo de queixas”. É função estratégica desse setor atuar ativamente na identificação, tratamento e prevenção de situações de assédio moral.
1. Crie canais seguros de escuta
A primeira barreira é o medo. Medo de retaliação, de não ser levado a sério, de ser demitido. Por isso, o RH deve oferecer canais anônimos ou altamente confidenciais para denúncias.
👉 Exemplos:
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Caixas de denúncia físicas e digitais;
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Formulários criptografados;
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Mediação com psicólogos organizacionais.
Importante: a cultura da escuta precisa ser reforçada constantemente — e não só quando o problema explode.
2. Acolha com empatia e neutralidade
Quando alguém denuncia uma situação de assédio, essa pessoa está vulnerável. O RH deve adotar uma postura empática, acolhedora e neutra, sem julgar ou minimizar a experiência relatada.
Evite frases como:
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“Você pode estar exagerando.”
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“Tem certeza que foi isso mesmo?”
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“Fulano é assim com todo mundo…”
O que deve ser feito:
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Ouvir atentamente, sem interromper;
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Registrar os fatos com clareza;
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Garantir sigilo absoluto.
3. Inicie uma investigação interna justa e ágil
Após a denúncia, o RH deve investigar os fatos. Isso envolve:
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Entrevistas com testemunhas;
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Coleta de registros (e-mails, prints, mensagens);
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Análise da conduta anterior dos envolvidos.
Evite postergar. Uma apuração morosa transmite conivência com o comportamento tóxico.
4. Aja com firmeza — e com base em provas
Se o assédio for comprovado, a empresa precisa agir. Isso pode significar advertência, suspensão ou desligamento do agressor, sempre respeitando as normas internas e a legislação trabalhista.
Tolerância zero ao assédio moral não pode ser apenas discurso institucional.
Precisa ser prática, visível e coerente.
5. Apoie a vítima durante e depois da denúncia
Mesmo após a apuração, a vítima precisa de suporte:
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Acompanhamento psicológico (interno ou externo);
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Afastamento temporário ou mudança de setor, se necessário;
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Feedbacks regulares sobre o andamento do processo.
Lembre-se: o trauma não termina quando o agressor é punido. Ele precisa ser cuidado.
RH omisso = empresa conivente
A omissão do RH é uma das principais razões pelas quais o assédio moral persiste nas empresas. Quando a área de Recursos Humanos se cala, ela valida o comportamento abusivo e contribui para um ambiente tóxico.
Consequências da omissão:
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Aumento de afastamentos por saúde mental;
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Perda de talentos estratégicos;
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Clima organizacional deteriorado;
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Danos à reputação da marca empregadora;
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Ações judiciais por dano moral e indenizações trabalhistas.
O RH também precisa de suporte
Em muitos casos, o próprio time de RH atua sobrecarregado, sem preparo emocional ou jurídico para lidar com essas situações.
Por isso, é fundamental que:
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A empresa invista na formação contínua do RH em temas como assédio, saúde mental e mediação de conflitos;
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Haja suporte jurídico especializado para decisões críticas;
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O RH tenha autonomia e respaldo da alta liderança para agir com firmeza.
Prevenção: a etapa mais poderosa
Mais do que apagar incêndios, o RH deve trabalhar preventivamente para evitar que o assédio aconteça.
Ações preventivas eficazes:
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Treinamentos periódicos sobre respeito, empatia e cultura de não assédio;
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Código de ética claro e amplamente divulgado;
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Avaliações de clima organizacional regulares;
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Feedbacks estruturados com foco em comportamento;
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Canais de escuta com acompanhamento.
Recapitulando: o que o RH precisa fazer diante do assédio moral?
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Criar canais seguros de denúncia
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Acolher com empatia e neutralidade
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Investigar com imparcialidade e agilidade
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Agir com base em evidências, sem corporativismo
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Apoiar a vítima com estrutura e sensibilidade
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Prevenir novas ocorrências com educação e cultura saudável
Conclusão: ser humano não é um cargo — é um valor
RH é, por definição, a área que cuida das pessoas. E cuidar significa ouvir, acolher e proteger.
Num mundo corporativo cada vez mais atento à saúde mental, à diversidade e ao respeito, o silêncio diante do assédio não é uma opção — é um erro estratégico e ético.
Ao agir com firmeza, empatia e justiça, o RH não apenas evita processos — ele constrói empresas onde as pessoas querem permanecer, evoluir e contribuir. E isso, no fim das contas, é o que sustenta uma cultura forte.
